
Cristina Buarque: Uma Voz Fundamental no Samba Brasileiro
Pouca gente dedicou tanta paixão ao samba quanto Cristina Buarque. Ela não era apenas a irmã menos conhecida de Chico Buarque, Miúcha e Ana de Hollanda. Cristina construiu uma carreira sólida, autêntica e muito respeitada no cenário musical do Brasil. Sua voz marcante e seu compromisso em valorizar o samba de raiz a destacaram como guardiã de uma tradição que corre o risco de ser esquecida pelo gosto popular volátil.
Ela nasceu em uma família já imersa no universo cultural brasileiro. Filha do renomado historiador Sérgio Buarque de Holanda, Cristina poderia facilmente ter ficado na sombra de nomes mais conhecidos, mas traçou seu próprio caminho. Estreou em 1974 e lançou nada menos que 14 álbuns. O último, Terreiro Grande e Cristina Buarque Cantam Candeia, saiu em 2010, reafirmando seu compromisso de jogar luz sobre grandes sambistas, como Candeia, figura que ela ajudou a levar a novas gerações.

A Paixão Pelas Rodas de Samba e o Resgate de Mestres Esquecidos
Além do palco, Cristina foi presença constante nas famosas rodas de samba de Paquetá, um pequeno paraíso insular no Rio de Janeiro. Durante muitos anos, essas reuniões informais se tornaram ponto de encontro de músicos veteranos e jovens sonhadores, todos atraídos pela atmosfera autêntica que ela ajudava a criar. Não era raro ver Cristina, já consagrada, ajudando a promover artistas históricos como Dona Ivone Lara e Wilson Batista, nomes que, sem esforço de pessoas como ela, poderiam ter sido engolidos pelo esquecimento.
As rodas de samba comandadas por Cristina em Paquetá eram mais do que uma diversão de domingo. Eram verdadeiras oficinas de memória, locais em que ela incentivava o respeito pela ancestralidade do samba e estimulava o surgimento de novos talentos. Quem participou dessas rodas lembra da generosidade: ela abria espaço tanto para veteranos quanto para quem estava começando. Ali, o samba era tratado como forma de expressão popular, resistência cultural e, claro, prazer coletivo.
Mesmo enfrentando o câncer de mama, Cristina não deixou de se dedicar à música e à defesa do samba, mostrando uma força admirável tanto no palco quanto na intimidade. Sua morte, em 20 de abril de 2025, não é só uma perda para os sambistas, mas para toda a cultura popular nacional. A despedida será emocionante: o velório foi marcado para 21 de abril, reunindo amigos, familiares e fãs no último adeus a uma das grandes vozes do samba.
Ela deixa cinco filhos — Ana, Paulo, Antônio, Maria do Carmo e Zeca Ferreira, que a homenageou nas redes sociais dizendo que Cristina era “o ser humano mais completo” que conheceu. Esse sentimento ecoa entre músicos, jornalistas e amantes do samba: Cristina Buarque vai fazer falta, mas seu legado continua pulsando na memória dos que ainda defendem o gênero e lutam pelo reconhecimento da música brasileira autêntica.